Quando o assunto é horror japonês, Junji Ito é, sem dúvida, o nome mais popular. Com clássicos como Uzumaki e Tomie, ele tornou-se o mestre do terror visual e psicológico no universo dos mangás. No entanto, o Japão tem outros artistas de peso, e entre eles está Suehiro Maruo, um autor que cativa um público cult com seu estilo visual e narrativo profundamente provocante. Entre suas obras, destaca-se Midori Shōjo Tsubaki, uma narrativa perturbadora que ganhou uma raríssima adaptação em anime em 1992.
Com um foco no grotesco e no erótico, Midori Shōjo Tsubaki é um anime que se afasta dos padrões da animação japonesa e oferece uma experiência extrema e visceral. Vamos conhecer a história, os desafios de sua adaptação e o impacto dessa obra no underground japonês.
Suehiro Maruo e o Movimento Ero Guro: Horror, Erotismo e Arte
Suehiro Maruo é um nome de destaque no gênero Ero Guro – uma combinação de erotismo e grotesco que explora o lado mais sombrio e perturbador da psique humana. Com obras icônicas como O Estranho Conto da Ilha Panorama e Vampiro que Ri, ele criou um estilo inconfundível, misturando o horror com temas filosóficos e visuais artisticamente desafiadores. Seu traço lembra pinturas clássicas, com personagens pálidos, de olhos expressivos, cujas histórias mergulham no grotesco e em temas de violência e erotismo.
Midori Shōjo Tsubaki: Uma História de Dor e Crueldade
Em Midori Shōjo Tsubaki, Maruo narra a história de Midori, uma jovem que perde a mãe e, sem alternativas, acaba entrando para um circo de horrores. Nesse ambiente, ela enfrenta abuso e violência, em uma história que expõe a crueldade humana de forma crua e direta. Publicado em 1984, o mangá rapidamente chamou atenção pelo seu conteúdo gráfico e pelo olhar sombrio sobre a condição humana, onde cada personagem parece marcado por traumas e perversões.
A Adaptação Conturbada de Midori Shōjo Tsubaki para Anime
Apesar do sucesso do mangá no underground, uma adaptação para anime parecia inviável. Em uma época sem internet, e com a indústria de animação japonesa voltada para o mainstream, não havia interesse em um projeto tão ousado. No entanto, Hiroshi Harada, um diretor com uma infância marcada por traumas, encontrou na obra de Maruo um eco de suas próprias experiências. Harada decidiu adaptar Midori Shōjo Tsubaki, mesmo que para isso tivesse que arcar com a produção praticamente sozinho.
Usando recursos limitados e técnicas criativas, ele conseguiu preservar o estilo visual de Maruo, ainda que com uma animação mais rudimentar. Lançado em 1992, o filme é uma obra que desafia o espectador e permanece até hoje como um marco underground.
Midori Shōjo Tsubaki e o Circo de Horrores: Um Anime Único e Extremo
A adaptação de Midori Shōjo Tsubaki é fiel ao grotesco e ao erótico da obra original, mostrando com crueza o horror da vida de Midori no circo dos horrores. Cada personagem é marcado por uma deformação física ou peculiaridade bizarra, criando uma atmosfera que lembra o freak show de American Horror Story: Freak Show. A obra é intensa e, ao contrário de outras histórias de horror, não possui monstros ou seres sobrenaturais. O verdadeiro terror é a natureza humana e os limites da crueldade.
Harada conseguiu animar a história usando técnicas simples, como cenários parados e animação com um número muito limitado de quadros. Esse estilo “travado” adiciona ao desconforto, mantendo a sensação de sufoco e desespero que marca a narrativa.
Um Trabalho Perseguido e uma Obra Perdida
Após o lançamento, o anime Midori Shōjo Tsubaki encontrou forte resistência e foi censurado. Sua distribuição foi limitada, e ele sobreviveu no underground japonês graças a cópias piratas que circulavam entre fãs do gênero. A versão original do filme, com cerca de 40 minutos, foi considerada perdida durante muitos anos, até que, em 2006, uma versão em DVD foi lançada na França. Desde então, o filme ganhou uma base de seguidores fora do Japão, mas continua desconhecido do grande público, destinado a aqueles que procuram uma experiência extrema e profunda dentro do anime.
Midori Shōjo Tsubaki e o Impacto no Ocidente
O lançamento da versão em DVD permitiu que Midori Shōjo Tsubaki cruzasse as fronteiras do Japão e chegasse ao ocidente. Ainda que não tenha sido lançado oficialmente em muitos países, o anime começou a ser discutido por comunidades de horror e fãs do underground, atraindo curiosidade pelo seu status de “obra proibida”. A adaptação ganhou até uma versão em live-action em 2016, mostrando que a história de Midori ainda cativa, mesmo em um cenário onde o anime mainstream domina.
Uma Obra Única e Para Poucos
Midori Shōjo Tsubaki não é uma obra para todos os públicos. Com uma narrativa que explora o grotesco, o erotismo e o lado mais sombrio do ser humano, este anime permanece como um trabalho artístico que desafia o espectador e oferece uma experiência de horror psicológico e visual incomum. É uma produção que convida o público a explorar uma forma de animação e narrativa distinta, na qual o terror não é apenas visual, mas psicológico.
A obra de Hiroshi Harada e Suehiro Maruo é um convite ao mundo underground e uma lembrança de que nem todo anime é feito para o entretenimento leve. Para aqueles que têm interesse em animações alternativas e histórias impactantes, Midori Shōjo Tsubaki é um marco essencial na história do anime erótico e grotesco.